ABU DHABI, 21 de janeiro de 2025 (WAM) — A artista brasileira Ana Elisa Murta traz a exposição "Mineral Garden" para Abu Dhabi, oferecendo uma nova perspectiva sobre arte e sustentabilidade. Ao transformar resíduos de mineração em pigmentos naturais, Murta reimagina materiais descartados, criando tintas não tóxicas que compõem vibrantes obras visuais. A exposição está em cartaz na Bassam Freiha Art Foundation, em Abu Dhabi, desde 19 de dezembro de 2024 até 16 de fevereiro de 2025.
Com um olhar atento à relação entre territórios, o trabalho de Murta conecta as montanhas de Minas Gerais — estado brasileiro conhecido por sua intensa atividade mineradora — às dunas dos Emirados Árabes Unidos. A artista explora as semelhanças e os contrastes entre esses ambientes naturais, como a solidez das rochas e a fluidez da areia, criando uma narrativa visual e simbólica que reflete sobre permanência, transitoriedade e a coexistência das forças naturais.
A origem do pigmento: do resíduo à arte
A ideia de criar pigmentos a partir de resíduos de mineração surgiu de uma necessidade pessoal de Ana Elisa Murta. Durante sua carreira, ela desenvolveu uma grave alergia a tintas convencionais, muitas vezes compostas por químicos nocivos associados a riscos à saúde. “Foi então que percebi que o pigmento, a matéria-prima mais valiosa das tintas, era abundante ao meu redor, nas rochas e no solo de Minas Gerais”, contou Ana Elisa à Agência de Notícias dos Emirados (WAM).
Com sua vasta atividade mineradora, Minas Gerais gera enormes quantidades de resíduos minerais — materiais que, embora descartados, possuem propriedades artísticas valiosas. Inspirada pelos pigmentos presentes nesses resíduos, a artista começou a coletar pequenas quantidades de materiais em minas próximas a Belo Horizonte. O processo inclui triturar, peneirar, lavar e purificar os minerais para obter um pó fino que, ao ser misturado com óleos, gera tintas similares às utilizadas por artistas renascentistas.
“As montanhas de Minas trazem um tempo geológico denso, carregado de história. Já as dunas dos Emirados, em constante transformação, representam a efemeridade. Ao unir esses elementos, proponho um diálogo entre o permanente e o transitório, entre o bruto e o delicado”, explica a artista brasileira.
Uma paleta de cores: entre tons terrosos e dourados
Na exposição "Mineral Garden", a paleta de cores nasce desse encontro entre continentes. Tons terrosos, extraídos dos resíduos minerais de Minas Gerais, mesclam-se com dourados inspirados pelas areias das dunas emiradenses. O resultado é uma vasta gama de cores que revelam nuances vibrantes e luminosas, transformando o que era resíduo em algo precioso.
Ana Elisa destacou os desafios técnicos de obter pigmentos naturais com qualidade e consistência. “Foi necessário um trabalho meticuloso, desde a seleção e purificação do material até a formulação das tintas. No entanto, o processo carrega uma dimensão simbólica poderosa: a transformação de um material descartado em algo belo e significativo.”
Um diálogo cultural através da arte
A exposição busca provocar reflexões no público sobre a relação entre materiais, natureza e desperdício. “Queremos despertar um olhar mais atento e sensível às histórias que os materiais carregam. Cada fragmento mineral transformado em pigmento contém uma memória do tempo e da relação da humanidade com a natureza”, explicou a artista.
Nos Emirados Árabes Unidos, a exposição promete expandir o diálogo entre os dois territórios, unindo culturas que, embora geograficamente distantes, enfrentam desafios semelhantes em relação à extração e à sustentabilidade de recursos naturais. “Esse intercâmbio entre Brasil e Emirados pode se expandir para futuros projetos, criando novas oportunidades de colaboração e troca cultural”, acredita Ana Elisa.
“Queremos que o público veja a beleza que existe no imperfeito, nos vestígios e no residual. A arte tem o poder de transformar não apenas materiais, mas também percepções e sensibilidades”, concluiu.
Em "Mineral Garden", Ana Elisa Murta cria um espaço de encontro entre natureza, culturas e tempo, onde a transformação se torna visível e a beleza emerge do que antes era rejeitado.