DUBAI, 12 de fevereiro de 2025 (WAM) — O ministro das Relações Exteriores do governo de transição da Síria, Asaad Al-Shibani, afirmou que a nova administração rejeita qualquer forma de exclusão e cotas, enfatizando que a formação do governo será baseada no mérito e na competência, e não em critérios religiosos.
Falando durante a Cúpula Mundial de Governos (WGS) 2025, em Dubai, Al-Shibani assegurou ao povo sírio: "Estamos comprometidos em representar todos os sírios, independentemente de suas crenças ou origens".
Ele acrescentou: "Superamos o maior desafio, que foi o regime anterior, que privou nosso povo de liberdade e dignidade. Agora, entramos em uma nova fase de paz e reconstrução, com desafios, mas desafios que nos alegram, pois são voltados para servir o nosso povo".
Embora a reconstrução das instituições estatais da Síria, incluindo as Forças Armadas, leve tempo, Al-Shibani destacou que a normalidade foi retomada imediatamente após a queda do regime, com mercados, universidades e locais de trabalho reabrindo.
O chanceler afirmou que o caso da Síria servirá de exemplo para ser estudado em universidades, ressaltando que o novo governo abraça a diversidade do país e rejeita qualquer tipo de cota ou exclusão.
"Não reconhecemos o termo 'minorias' na formação do novo governo, cuja estrutura será definida em 1º de março. As nomeações serão baseadas na competência, não em afiliações religiosas", declarou.
Transição política sem deslocamento ou exílio
Abordando preocupações sobre o processo político, Al-Shibani assegurou que não há incertezas: "O povo sírio está informado, é capaz e está no centro deste processo. A mudança aconteceu em apenas 11 dias, com participação total da população. Diferentemente de transições anteriores, esta não resultou em deslocamentos ou exílio".
Ele ressaltou que os sírios sempre conviveram em harmonia e marcharam juntos contra o regime opressor. Agora, enfatizou, a lei e a Constituição serão aplicadas a todos de maneira equitativa.
"Fomos vítimas da exclusão imposta pelo regime anterior durante 50 anos, e certamente não repetiremos esse erro. Quem sofreu no passado não deve causar sofrimento aos outros", disse Al-Shibani.
Ele afirmou que a abordagem cuidadosa do governo nos últimos dois meses tem sido essencial para o sucesso da transição. O maior avanço, segundo ele, foi evitar conflitos sectários ou civis após a mudança política.
Relações internacionais e desafios econômicos
O chanceler destacou que, após 14 anos de revolução e meio século de opressão, os sírios finalmente experimentam liberdade e dignidade. "Pela primeira vez, eles sentem um verdadeiro senso de pertencimento ao país", afirmou.
Al-Shibani também abordou os desafios políticos e econômicos do governo de transição. "Herdamos relações tensas com nossos vizinhos e com a comunidade internacional, e a Síria era vista como uma ameaça. Desde que assumimos a responsabilidade, em 8 de dezembro, temos trabalhado para restaurar essas relações, tanto regional quanto internacionalmente".
Ele detalhou os esforços do governo para reestabelecer laços com os países do Golfo e nações vizinhas, especialmente a Jordânia, que enfrentou sérios desafios de segurança devido a violações de fronteira e ao tráfico de Captagon promovido pelo antigo regime sírio.
Sobre o Líbano, Al-Shibani condenou a relação negativa que existia sob o governo de Bashar al-Assad e assegurou que a nova Síria respeitará a soberania libanesa e estará sempre pronta para apoiar o país quando necessário.
Em relação ao Iraque, ele expressou respeito e amizade e anunciou planos para visitar Bagdá em breve, após receber um convite oficial.
No que diz respeito às relações com Rússia e Irã, Al-Shibani enfatizou que qualquer parceria deve ser baseada no respeito mútuo e na não interferência nos assuntos internos sírios. Ele afirmou que é essencial corrigir os legados do passado e garantir que o povo sírio se sinta valorizado nessas relações.
Desafios econômicos e perspectivas futuras
O chanceler reconheceu que a economia síria foi devastada e que as sanções internacionais impostas ao regime anterior permanecem em vigor devido a crimes como tortura e assassinato, especialmente na prisão de Sednaya.
"Desde que assumimos o governo, acabamos com a corrupção e o desvio do orçamento do Estado. Em apenas dois meses, conseguimos fortalecer a libra síria em 70% frente ao dólar", revelou.
Ao encerrar sua participação, Al-Shibani prometeu que "daqui a um ano, a Síria estará posicionada de forma clara no cenário global. Em quatro anos, estaremos aqui ou em Damasco, discutindo as grandes conquistas do povo sírio".
A Cúpula Mundial de Governos 2025, que teve início na terça-feira, em Dubai, reúne mais de 30 chefes de Estado e governo, mais de 80 organizações internacionais e regionais e 140 delegações governamentais. O evento apresenta 21 fóruns globais sobre tendências futuras, mais de 200 sessões interativas com mais de 300 palestrantes — incluindo presidentes, ministros, especialistas e líderes de pensamento — e mais de 30 reuniões ministeriais e mesas-redondas com a participação de mais de 400 ministros.
Sob o tema "Moldando os Governos do Futuro", a cúpula segue até 13 de fevereiro.