Jornalistas árabes defendem protagonismo narrativo no Fórum Árabe de Mídia

DUBAI, 28 de maio de 2025 (WAM) — A sessão “Mídia Árabe em Línguas Estrangeiras”, realizada como parte do Fórum Árabe de Mídia 2025, no segundo dia da Cúpula Árabe de Mídia, abordou questões cruciais sobre a propriedade narrativa, integridade editorial e o papel em evolução dos profissionais de imprensa árabes em um mundo multilíngue impulsionado por inteligência artificial.

Desde o domínio dos algoritmos até a preservação do contexto nas traduções, os palestrantes destacaram como os jornalistas árabes estão não apenas contando suas próprias histórias — mas fazendo isso com autoridade, precisão e impacto em plataformas globais.

Com mediação de Yousef Abdul Bari, apresentador da Dubai Media Incorporated, a sessão contou com a participação de Caroline Faraj, vice-presidente da CNN Arabic Services; Maha Eldahan, chefe do escritório do Golfo da Reuters; e Faisal Abbas, editor-chefe do jornal Arab News.

Os palestrantes concordaram que a atuação da mídia árabe em idiomas estrangeiros não se resume à tradução literal ou simplificação. Trata-se de transmitir a realidade da região por meio de vozes profissionais e bem informadas, que compreendem profundamente seu contexto e suas complexidades.

Questionada sobre o risco de que as histórias árabes percam sua essência ao serem veiculadas em outros idiomas ou moldadas para se adequar a expectativas internacionais, Caroline Faraj afirmou: “A verdade não muda com a língua. Quando é transmitida por quem conhece a região — seu povo, seu contexto, seus desafios — ela preserva sua integridade, seja em árabe, inglês ou francês. Nós trazemos nuances e experiência vivida para o público global. Não precisamos mais de intérpretes estrangeiros; somos plenamente capazes de contar nossas histórias de forma precisa e autêntica.”

Os palestrantes concordaram que preservar a autenticidade, a verdade e uma perspectiva editorial humana continua sendo fundamental. “O idioma não dilui a verdade — quando a história é contada por quem a compreende profundamente, sua essência é preservada”, observou Faraj.

Faisal Abbas abordou a influência crescente dos algoritmos nas redações. “Se o conteúdo é o rei, o contexto é a rainha — e os algoritmos são o piso do palácio”, disse. “Os algoritmos não contam a história, mas ajudam a entregá-la. Dominá-los hoje é como dominar a distribuição de jornais no passado.” Ele destacou que é essencial compreender como as plataformas funcionam para manter alcance e relevância.

Abbas também mencionou os sucessos editoriais das edições multilíngues do Arab News — em francês, japonês e urdu — como modelos baseados em parcerias entre jornalistas árabes e falantes nativos de cada idioma. “Em cada edição, garantimos que haja colaboração entre profissionais árabes e tradutores nativos. Assim, nada se perde na tradução — e, mais importante, o contexto adicional faz sentido tanto para leitores árabes quanto locais.”

Maha Eldahan destacou a evolução do papel dos profissionais árabes em veículos de alcance internacional. “Jornalistas árabes não estão mais restritos a cobrir apenas assuntos regionais — tornaram-se especialistas confiáveis em temas globais.” Segundo ela, esse reconhecimento tem levado importantes veículos de mídia a contratar mais talentos regionais, reconhecendo que são os mais aptos para contar suas próprias histórias com autoridade e profundidade.

O debate também abordou o uso da inteligência artificial nas redações. Abbas disse que a IA, quando bem utilizada, é uma ferramenta poderosa — no Arab News, por exemplo, reduziu o tempo de tradução em 90% e eliminou custos de produção de podcasts. “O problema não é a IA — o desafio real surge quando a tomada de decisão humana não acompanha o ritmo”, afirmou. Faraj explicou que a CNN Arabic está testando ferramentas de IA internamente, mas com cautela.

Já Eldahan ressaltou que, mesmo com a adoção crescente dessas ferramentas, o fator humano continua indispensável. “Não se pode publicar uma história traduzida ou gerada por IA sem a intervenção humana. A camada final de julgamento e nuance — o que chamamos de toque humano — ainda é essencial. No fim das contas, nós somos a inteligência original.”