Secretário-geral da ONU pede fim da exploração dos oceanos na abertura de cúpula da ONU na França

PARIS, 9 de junho de 2025 (WAM) – Com o mar Mediterrâneo ao fundo, o secretário-geral da ONU, António Guterres, abriu a Terceira Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos com um apelo contundente sobre a relação rompida da humanidade com o mar.

“O oceano é o recurso compartilhado por excelência”, afirmou Guterres aos participantes reunidos no porto de Nice. “Mas estamos falhando com ele.”

O secretário-geral alertou que os oceanos estão absorvendo 90% do calor excedente gerado pelas emissões de gases de efeito estufa e estão à beira do colapso: sobrepesca, aumento das temperaturas, poluição por plásticos, acidificação. Os recifes de corais estão morrendo. Os estoques pesqueiros estão entrando em colapso. O nível do mar, disse ele, pode em breve “submergir deltas, destruir plantações e engolir litorais — ameaçando a sobrevivência de muitas ilhas.”

Mais de 50 chefes de Estado e de Governo participaram da cerimônia de abertura, entre eles o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen — um sinal da importância política do encontro.

Ao todo, mais de 120 países participam da conferência de cinco dias, conhecida pela sigla UNOC3, refletindo o reconhecimento crescente de que a saúde dos oceanos está diretamente ligada à estabilidade climática, à segurança alimentar e à equidade global.

O presidente da França, Emmanuel Macron, cujo país coorganiza a cúpula ao lado da Costa Rica, discursou em seguida com um apelo enfático em favor da ciência, da legislação e da ação multilateral. “Se a Terra está esquentando, o oceano está fervendo”, declarou.

Macron afirmou que o destino dos oceanos não pode ser deixado ao mercado ou à opinião pública. “A primeira resposta deve ser o multilateralismo. O clima, assim como a biodiversidade, não são questões de opinião, mas de fatos cientificamente comprovados.”

Na sequência, o presidente da Costa Rica, Rodrigo Chaves Robles, agradeceu a Guterres por elevar os oceanos na agenda internacional e lançou um alerta incisivo.

“O oceano está nos falando — com recifes de coral descoloridos, com tempestades, com manguezais feridos”, disse. “Não há mais tempo para retórica. Agora é hora de agir.”

Condenando décadas de tratamento do oceano como “uma despensa infinita e um lixão global”, Chaves pediu uma mudança de paradigma: da exploração para a preservação.

Um dos principais objetivos da cúpula é impulsionar a entrada em vigor do histórico Tratado da Biodiversidade em Áreas Além da Jurisdição Nacional — conhecido como Tratado do Alto-Mar ou acordo BBNJ — adotado em 2023 para proteger a vida marinha em águas internacionais. São necessárias 60 ratificações para que o tratado se torne juridicamente vinculante.

Emmanuel Macron anunciou que essa meta está próxima: “Além das cerca de 50 ratificações já entregues aqui nas últimas horas, 15 países se comprometeram formalmente a aderir”, disse. “Isso significa que o acordo político foi alcançado, e podemos dizer que esse tratado será efetivamente implementado.”

Independentemente de o limiar legal ser alcançado nesta semana ou logo depois, completou o presidente francês, “já é uma vitória”.